06 de Agosto: 80 Anos do Inferno Atômico em Hiroshima e Nagasaki


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Da Redação

Em agosto de 1945, duas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki mudaram o curso da história e inauguraram uma era de terror nuclear. O impacto devastador dos ataques continua a ecoar oito décadas depois, na memória dos sobreviventes e no alerta constante de que o mundo permanece sob a ameaça de um novo apocalipse atômico.

 O Dia em que o Sol se Apagou

Na manhã de 6 de agosto de 1945, Hiroshima despertava para mais um dia comum sob a sombra da guerra. Às 8h15, porém, o céu foi cortado por um clarão indescritível. O bombardeiro americano Enola Gay, pilotado pelo coronel Paul Tibbets, lançava do alto dos céus a bomba de urânio-235 conhecida como Little Boy. A explosão aconteceu a cerca de 600 metros do solo, liberando uma energia equivalente a 15 mil toneladas de TNT.

A onda de calor ultrapassou os 4.000 °C, pulverizando tudo em um raio de aproximadamente 4,5 km. “Às 8h14 era um dia ensolarado, às 8h15 era um inferno”, relembra Kathleen Sullivan, diretora da organização Hibakusha Stories. Toshio Tanaka, um menino de seis anos na época, contou: “Vi um clarão como um milhão de luzes, tudo ficou branco.”

A cidade foi transformada em cinzas. Estima-se que entre 50 mil e 100 mil pessoas morreram imediatamente, e dois terços de seus edifícios foram destruídos. Mesmo assim, o Japão resistiu à rendição.

 Três Dias Depois, Novo Horror: Nagasaki

No dia 9 de agosto de 1945, a tragédia se repetiu. O bombardeiro Bockscar, sob o comando do major Charles Sweeney, lançou sobre a cidade de Nagasaki a bomba Fat Man, feita de plutônio-239. Apesar de ser mais potente — com energia equivalente a 21 mil toneladas de TNT —, o terreno montanhoso limitou o impacto da explosão, que mesmo assim destruiu 40% da cidade.

A devastação foi brutal. “Corpos carbonizados, vozes pedindo socorro, pessoas com a carne se desprendendo... Era o inferno”, relatou o sobrevivente Sumiteru Taniguchi.

Estima-se que outras 70 mil pessoas morreram em Nagasaki até o fim de 1945. Ao todo, os dois ataques deixaram entre 110 mil e 210 mil mortos até dezembro daquele ano, sem contar as vítimas posteriores da radiação.

 A Rendição e o Fim da Guerra

Somente após os dois bombardeios, o imperador Hirohito decidiu render-se. Em 15 de agosto de 1945, pediu ao povo japonês que “suportasse o insuportável”. A rendição oficial foi assinada em 2 de setembro a bordo do navio USS Missouri, na Baía de Tóquio, marcando o fim da Segunda Guerra Mundial.

 A Bomba que Não Para de Matar

Os efeitos das bombas atômicas não se restringiram ao momento das explosões. Os sobreviventes — chamados hibakusha — foram marcados por ferimentos, traumas e doenças causadas pela radiação. Queimaduras severas, sangramentos, queda de cabelo e vômitos foram apenas os primeiros sinais.

Nos anos seguintes, a incidência de leucemia, câncer de tireoide, mama e pulmão aumentou dramaticamente entre os habitantes das cidades atingidas. Muitos sofreram também de catarata precoce e distúrbios psicológicos severos. Além das cicatrizes físicas e emocionais, os hibakusha enfrentaram discriminação social e viveram com a culpa de terem sobrevivido quando tantos outros pereceram.

 Lembrar para Não Repetir

Hoje, aos 80 anos dos ataques, sobreviventes como Masako Wada e Terumi Tanaka continuam a alertar o mundo sobre o risco persistente das armas nucleares. “Nada foi aprendido com a nossa experiência. Corremos um risco ainda maior hoje do que no passado”, disse Wada, atual secretária-geral adjunta da Nihon Hidankyo, organização agraciada com o Prêmio Nobel da Paz em 2024.

Com os atuais conflitos armados no mundo — da Ucrânia ao Oriente Médio —, os hibakusha temem que a história se repita. “Se continuarmos nesse caminho, isso pode causar a Terceira Guerra Mundial e o fim da Terra”, alerta Toshio Tanaka.

 Uma Lição que o Mundo Não Pode Esquecer

O uso de bombas atômicas contra Hiroshima e Nagasaki permanece como um dos episódios mais controversos da história. Para alguns, foi um mal necessário para encerrar a guerra. Para outros, um ato indefensável de barbárie contra civis inocentes.

Independentemente da interpretação, os fatos são inegáveis: em poucos segundos, milhares de vidas foram ceifadas e centenas de milhares foram condenadas a décadas de sofrimento. A humanidade entrou na era nuclear não com um avanço, mas com uma catástrofe.

O inferno vivenciado em Hiroshima e Nagasaki não pode ser apagado. O mundo tem o dever de lembrar — não como um fardo do passado, mas como uma advertência urgente para o futuro.

Fontes:

Baseado em artigo de Carlos Serrano, publicado na BBC News Brasil 

BBC News Mundo, Hibakusha Stories, Nihon Hidankyo, Discovery Channel, Arquivos Históricos dos EUA.

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