Por Redação
| 12 de maio de 2025
O Brasil
testemunhou uma média alarmante de 60 homicídios de adolescentes e jovens
adultos por dia em 2023, totalizando 21.856 mortes apenas nessa faixa
etária, segundo o Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira
(12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria
com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A
publicação, baseada em dados do Ministério da Saúde, destaca que a violência
é a principal causa de morte entre brasileiros de 15 a 29 anos. De acordo
com o estudo, 47,8% de todos os homicídios ocorridos no país em 2023 tiveram
jovens como vítimas, e 1 em cada 3 mortes registradas nesse grupo
etário foi causada por homicídio.
Queda geral, mas com focos de agravamento
Apesar dos
números absolutos chocantes, houve uma redução nacional de 3,2% na taxa de
homicídios entre jovens na comparação com 2022. Em 2017, pico da série
histórica iniciada em 2013, a taxa era de 70,1 homicídios por 100 mil jovens.
Em 2023, esse índice caiu para 45,1.
No entanto,
a melhora não foi uniforme. Onze estados brasileiros registraram aumento na
letalidade juvenil, com destaque para o Amapá, que viu um salto de 49,1%,
alcançando a maior taxa do país: 134,5 homicídios por 100 mil jovens. A Bahia
aparece logo atrás, com 113,7, mais de 12 vezes a taxa de São Paulo,
que teve a menor letalidade juvenil, com 10,2 por 100 mil.
Outros
estados com aumento relevante foram:
- Mato Grosso do Sul (+17,1%)
- Rio de Janeiro (+9,9%)
- Tocantins (+8,4%)
- Santa Catarina (+7,5%)
Um custo humano incalculável
O Atlas
contabiliza que, de 2013 a 2023, o Brasil perdeu 312.713 jovens para o
homicídio — um número maior que toda a população da cidade paulista de
Taubaté. Segundo os pesquisadores, essa estatística revela um impacto
devastador no futuro do país: "A morte prematura significa privar esses
jovens da oportunidade de experimentar outras fases da vida."
Para
ilustrar esse drama, o estudo calcula os Anos Potenciais de Vida Perdidos
(APVP), estimando que os assassinatos de jovens ao longo da última década
representaram 14.788.282 anos de vida perdidos — o dobro do total
causado por acidentes, a segunda maior causa de morte entre jovens.
Violência letal e não letal contra crianças
A situação
das crianças de 0 a 14 anos também é preocupante. O estudo aponta que 8.600
crianças foram assassinadas entre 2013 e 2023. Embora tenha havido queda
nas mortes na primeira infância ao longo da década, o período recente inverteu
essa tendência: entre 2022 e 2023, os homicídios de crianças de 0 a 4 anos
subiram de 147 para 170 casos.
Além da
violência letal, o Atlas da Violência identificou aumento
significativo nas notificações de violências não letais contra crianças e
adolescentes, como agressões físicas, abusos sexuais, psicológicos e casos de
negligência — especialmente a partir de 2020, com o início da pandemia da
Covid-19.
Essas
violências ocorrem, em sua maioria, dentro das próprias residências,
sendo as ruas o segundo local mais comum, principalmente entre os mais velhos
(a partir dos 15 anos).
Os autores
do estudo destacam que parte desse crescimento se deve à melhoria da
cobertura e da notificação do Sinan (Sistema Nacional de Agravos de
Notificação). Ainda assim, a tendência crescente nos últimos anos é
considerada preocupante, especialmente diante das vulnerabilidades sociais
agravadas no período pandêmico.
Impactos além da violência
O Atlas
da Violência também alerta para os efeitos colaterais da criminalidade
juvenil no Brasil, como a redução do desenvolvimento educacional, diminuição
da participação no mercado de trabalho e menor crescimento econômico
nacional.
Diante de
tantos dados impactantes, os pesquisadores concluem com um apelo: “O Brasil
precisa urgentemente de políticas públicas integradas e eficazes, que priorizem
a juventude e combatam as causas estruturais da violência.”
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