O que acontece com o corpo momentos antes da morte?


Por André Biernath – BBC News Brasil, em Londres

A morte é a única certeza da vida. Mesmo assim, pouco se fala sobre o que realmente acontece com o corpo humano quando esse momento chega. Sonolência, falta de fome, pele fria e respiração barulhenta são alguns sinais de que a vida está se despedindo.

Especialistas em cuidados paliativos afirmam que compreender esse processo pode tornar a partida mais suave, tanto para quem vai quanto para quem fica.


A fase ativa da morte

Os últimos dias ou horas de vida são conhecidos como fase ativa da morte. Esse processo é mais comum em doenças prolongadas, como câncer ou demência, quando os órgãos não conseguem mais sustentar as funções vitais.

A médica Ana Claudia Quintana Arantes, especialista em cuidados paliativos, explica esse momento por meio de uma metáfora com os quatro elementos da natureza: terra, água, fogo e ar.


O desligamento do corpo: a “terra”

O primeiro sinal é a perda da força física. O corpo fica pesado, difícil de movimentar, e surge uma sonolência constante.

O sistema digestivo diminui o ritmo: fome e sede desaparecem, assim como a necessidade de ir ao banheiro.

A pele se torna pálida, fria e pode adquirir tons azulados nas mãos, pés e lábios. Mesmo assim, sentidos como audição e tato continuam ativos. Por isso, palavras de carinho e toques leves podem confortar nesse momento.


A desidratação: a “água”

Em seguida, o corpo começa a ressecar. Lábios, olhos e boca ficam secos. Em vez de recorrer a soros, pequenas ações simples — como umedecer a boca ou hidratar a pele — ajudam a trazer alívio.

A dor pode aumentar, mas a medicina dispõe de medicamentos como a morfina para reduzir o sofrimento. “É fundamental que familiares estejam preparados para lidar com esses sintomas”, explica o médico Arthur Fernandes, da Academia Nacional de Cuidados Paliativos.


A melhora da morte: o “fogo”

Muitas vezes, ocorre uma breve melhora chamada de “visita da saúde”. A pessoa volta a se comunicar, pede comida e parece animada.

Esse instante é precioso para reencontros, despedidas e declarações de amor. Mas não se trata de recuperação: é apenas um último sopro de vitalidade antes do corpo se desligar novamente.


A respiração final: o “ar”

Na etapa final, a respiração se torna irregular: curta e rápida em alguns momentos, longa e pausada em outros. Pode soar barulhenta devido ao acúmulo de secreções, mas os médicos destacam que isso não causa necessariamente sofrimento.

O ciclo se encerra na última expiração. O coração para, o cérebro se apaga e a vida se despede. “Assim como ao nascer puxamos o primeiro ar, no fim devolvemos esse sopro sagrado”, reflete Ana Claudia Quintana Arantes.


Falar sobre a morte é falar sobre a vida

Para o médico Arthur Fernandes, é essencial que esse tema seja discutido abertamente:

“A morte não é o contrário da vida, mas sim do nascimento. A vida é tudo o que acontece entre esses dois momentos.”

Entender os sinais da partida pode ajudar famílias a viverem esse instante com mais serenidade e significado.


📌 Fonte: Reportagem de André Biernath para a BBC News Brasil.

  

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